terça-feira, 11 de agosto de 2015

Na rua...

Sair com bebês na rua pode se tornar uma verdadeira gincana. A tentação de não sair de casa é grande, mas sair é importante para a saúde mental de todos na casa! Então, o negócio é respirar fundo, arrumar a bolsa (pensando em todas as variáveis de perrengue possíveis), tomar coragem e colocar o pé na rua.

Quem nunca...
Se viu toda vomitada na rua?
Não sabia por onde começar a trocar uma fralda de cocô até o pescoço no meio da rua?
Precisou achar um banheiro "urgente" no lugar mais movimentado da cidade?

Essas e outras situações vão acontecer em algum momento da maternidade, encarar como parte da gincana é a melhor (e, na minha opinião, única) opção para lidar com estes imprevistos...

E quando você vê uma mãe nesse aperto, o que fazer? Basicamente você tem 3 opções:
a) ignorar (se você não vai ajudar, é o melhor a fazer)
b) olhar de cara feia - afinal, quem entra toda vomitada e com peito quase de fora num elevador comercial na hora do almoço? (essa talvez seja sua reação se você ainda não tem filhos ou já não lembra mais o que é ter filhos pequenos)
c) ajudar (e fazer o dia daquela mãe muito mais feliz)

Tenha certeza de que se você optar pela opção "c" será um presente para aquela mãe (ou pai) em situação extrema. Ontem encontrei 2 pessoas que optaram pela opção "c" e fizeram TODA a diferença:

Resolvi dar uma passada da Weleda para comprar alguns produtos pra minha bebê... Estacionei, peguei só minha carteira (para ir rapidinho) e ao tirá-la do carro, percebi que ela estava com cocô até o pescoço (literalmente). 
Fiquei na dúvida do que fazer, pensei em colocá-la de volta e ir pra casa. Mas, como estava precisando das coisas e já estava lá, decidi entrar - pedindo desculpas por entrar com uma bebê toda suja de cocô na loja. 
As vendedoras insistiram para eu trocá-la lá, foram esquentar água no microondas (pois na pia só tinha água fria) mesmo eu insistindo que não era preciso e me ajudaram em todo o processo de tirar a roupa, dar banho na pia (inclusive me oferecendo pomada) e vesti-la. 
Me senti super acolhida!
Agradecida!

Uma situação que poderia ser um sufoco monumental se transformou em um momento descontraído.

Sinceramente acredito que o munda seria um lugar mais feliz se mais pessoas agissem assim!
Mãe, pais, avós, saiam com seus pequenos! Não tenham medo dos perrengues, e se preparem para as eventualidades com um sorriso no rosto e muita calma no coração...



quarta-feira, 3 de junho de 2015

Apretrechos para o bebê: de que realmente precisamos nos primeirosmeses?

Uma amiga querida me fez essa pergunta. Na verdade perguntou se eu tinha uma planilha com o que comprar na versão realista. Planilha não tenho, mas posso ajudar a pensar...
O que precisamos comprar para os 3 primeiros meses do bebê?
Lógico, que o mais importante é amor e carinho, mas fato é: sim, precisamos de coisas, e tudo em volta nos leva a crer que precisamos de muitas coisas. Como diz meu marido, quanto menor a pessoa, maior o número de coisas... será?
Então vamos, lá: tentando ajudar as mães de primeira viagem:

Para você:
É importante ter roupas que você se sinta à vontade para receber as pessoas e que, ao mesmo, tempo sejam confortáveis para amamentar. Tem algumas lojas especializadas, mas as roupas não precisam necessariamente ser de maternidade ou ter botão no meio.
Calcinhas pós parto são super confortáveis. Não precisam ser super caras, pois serão usadas por um ou dois meses, no máximo.
Para amamentação, além da roupa, protetor de seio e creme são bem importantes de ter em casa.

Pomadas, sabão e etc:
Eu não faria estoque, pois você não sabe como ele vai reagir aos produtos. Eu uso tudo da Weleda e adoro.

Banheira:
Como é teu espaço? Nosso banheiro é minúsculo, então uso balde (ofurô), mas tem muita coisa legal, depende do teu espaço. Com a Laura, por exemplo, a gente tinha uma banheira que apoiava nas laterais da banheira grande (saudade da banheira de verdade!). Acho que encher banheira no quarto é furada. Melhor concentrar tudo no banheiro mesmo.

Roupas: 
Você vai usar menos do que você vai comprar / ganhar. Acredite. Principalmente tamanho RN. Compre os básicos (coisas de algodão lisas) e os mais transados as pessoas vão te dar de presente. Isso vale pra RN e 0 a 3 meses.

Sapato:
Não precisa. Nunca usei. Só meia (ou pantufa). Tem um elástico legal pra meia não cair do pé do bebê. Super recomendo. 

Cadeirinha pra colocar o bebê em casa:
Vale muito a pena ter uma simples, mas que deite bem. Não vale investir numa cara porque você vai usar, mas por pouco tempo. A Nina está quase grande demais pra ficar nela (tem 4 meses e meio). 

Bebê conforto / carrinho:
Não existe combinação ideal. Você tem que pensar qual vai ser o uso e escolher o que encaixar melhor no que você quer: leve? Prático? Que encaixe? Que dobre em uma peça só? Acho os carrinhos mega confortáveis pra RN que depois dos 6 meses viram trambolhos e não servem mais totalmente desnecessários. Aqui, as duas usaram o modelo guarda-chuva, mas que reclinava até 180 graus para poder dormir bem e não comprei outro carrinho com 6 meses (como rola muito).

Moisés / berço:
Pensem o que querem fazer nos primeiros meses. Ele vai dormir com vocês ou no berço no quarto dele? Exitem muitas opções... Muita gente opta por colocar o carrinho no quarto pra ficar perto e dormir de noite. Eu não gosto disso, primeiro porque a roda do carrinho vai em tudo quanto é lugar e não quero no meu quarto, segundo porque carrinho, pra mim, é pra dormir de dia e cama, de noite.
Então com a Laura, tivemos um moisés (daqueles de palha) no nosso quarto até 3 meses e com a Nina um mini bercinho que ainda usamos (vamos transferi-la pro quarto dela em breve) . Assim, ela dorme no nosso quarto, mas não na nossa cama.  Está perto mas não junto. De dia, às vezes, coloco a Nina pra dormir no berço no quarto delas pra ela ir se acostumando.

Trocador:
Tive com a Laura porque tinha espaço, com a Nina não temos e OK, sobrevivemos. Depende do teu espaço. Se for comprar, é legal um móvel que possa ter outro uso depois.

Tapete de atividades pro chão:
Muito útil, uso muito. A partir de umas 4/6 semanas. Pode ser qualquer um.

Brinquedos: 
Não compre. Você vai ganhar muito e ele não precisa de quase nada. Só compre o que gostar muito ou fizer parte da decoração mesmo. 

Chupeta e mamadeira:
Tema controverso. Eu dei chupeta pra duas depois que aprenderam a mamar bem e foi ótimo. Mas tem gente que diz que a chupeta atrapalha a amamentação. Respeito, porém discordo. Mamadeira - se você vai amamentar, não precisa. Não tive com a Laura e só comprei pra Nina por causa da cirurgia e agora não uso mais. Ao se livrar da necessidade delas, automaticamente você se liberta de todos os apetrechos que as envolvem. A Laura saiu do peito pro copo.

Babá eletronica:
Tive com a Laura e não usei. Depende do tamanho da tua casa. Se fosse uma casa grande, eu teria. Aqui não precisa. 

Fraldas:
Acredite, você vai ficar doida com todos os tipos e tamanhos e marcas (que não fazem sentido) no mercado. Eu não fiz chá de fralda e não me arrependo. Cada criança se adapta a uma marca... e eu vou comprando a medida em que vou precisando. Por exemplo, comprei uma super cara (que só tinha a partir do tamanho M) pra testar e a Nina DETESTOU: cada xixi, um chororô até eu trocar a fralda. Parece que o gel esquentava. E é a top do mercado. Ela prefere uma mais barata (obviamente não a mais barata). Vai entender. 

Paninhos em geral: 
Você vai usar muito: lençol pro berço, moisés, carrinho (uns 4 cada); fraldinha pra limpar a boca quando amamentar; fraldinha de pano pra cobrir o trocador; mantas; cobertores....
Acho que se ganha uma parte, mas vale comprar sim - de repente com detalhes diferentes para funções diferentes (isso só rola com o primeiro filho, ok?)...

Bolsa de bebê: 
Pense que será usada por você e pelo marido por uns 2/3 anos (e aqui estamos usando de novo a da Laura). 
Eu não compraria nada muito branco ou feminino nem difícil de limpar. Um trocador portátil na bolsa também é muito útil.

Sling: 
AMO!!!! Usei muito com a Laura, principalmente no começo. Com a Nina, também!
Pra viagem é fantástico! Fui e voltei do Rio com ela no Sling, ela nem acordou - coloquei o cinto com ela dentro do sling mesmo. Nem percebeu que andou de avião. Dormiu em Congonhas e acordou no Santos Dumont e na volta, idem. Com a Laura nas viagens internacionais também usei muito, muito mesmo - porque ajustando bem, você não sente o peso e fica com as 2 mãos livres para bolsa, passaporte, etc.
Além disso, quando os bebês ficam agitados em casa mesmo, dá pra colocar no sling e fazer outras coisas: comer, teclar, beber água, arrumar alguma coisinha... É ótimo!

Poltrona de amamentação: 
Eu não tive por falta de espaço, mas gostaria de ter tido.
É legal ter uma poltrona confortável (com apoio pros braços e pés) ou no teu quarto ou no quarto do bebê. Com a Laura, tinha um futton, que deu pro gasto. Agora não tenho nada disso e sobrevivemos, mas gostaria de ter sido diferente.

Acho que é isso! 


domingo, 24 de maio de 2015

Piquenique na cidade grande

Marquei com minhas amigas de ir a um evento no parque - um piquenique, organizado pela slowkids.
Ficamos animados com o programa, cortamos nossas frutas, assamos uns cookies de aveia e nos organizamos para chegar às 14h. 
Almoçamos, arrumamos as coisas do almoço e saímos. 
No grupo do Whatsapp todo mundo se comunicando dando notícias de onde estavam e como estava a situação do trânsito.
Era tanta gente, mas tanta gente, que a Marginal ficou totalmente parada - um caos se formou. Quase desistimos, mas acabamos estacionando longe (beeeeeeeeeeeeeem longe) a andando até o parque.

O paulistano está sedento por esse tipo de programa. Ar livre, sol, temperatura agradável, contato com a natureza. Como falta contato com a natureza em SP! 
Estamos há quase dois anos na cidade e sentimos que aproveitamos pouco do que a cidade tem pra oferecer. Um dos motivos, com certeza, é a dificuldade de ir e vir por aqui. Estacionar é uma tarefa complicada quando se trata desse tipo de evento, ir de transporte público (com 2 crianças, carrinho, comida etc), então, mais ainda. 
Como eu estava com saudade desse contato direto com a natureza, foi muito bom!
Foi muito bom estar com amigos queridos numa tarde ensolarada de outono!
E as meninas amaram - tudo, menos o engarrafamento para chegar e a caminhada ladeira acima para voltar...

Valeu a pena - sim, muito!
Mas acho que da próxima vez, ou me organizo pra chegar 2h antes do evento começar ou vai dar preguiça...


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Pessoas

Um grande amigo, ao saber do meu problema de saúde, disse:
"Uma das coisas que mais me marcaram quando eu fiquei doente foram as pessoas. Você vai se decepcionar com muita gente e se surpreender com muita gente".

Verdade.

Pessoas com quem nunca pensei que pudesse contar estiveram presentes, mão na massa, ajudaram muito, com coisas que nem pensava que precisaria de ajuda.
Outras, com quem achei que pudesse contar, não. E não por não querer, mas não poder mesmo. Fiquei magoada - mas hoje entendo que a ajuda da qual eu estava precisando elas não podiam - não podem - oferecer.

Tenho muita gratidão por todos que ficaram com minhas filhas nas duas semanas em que fiquei internada sem vê-las. Lembro com muito carinho das enfermeiras que cuidaram de mim, de cada uma que me ajudou a dar um passo a mais para minha recuperação.

Os quase dois meses mais críticos por qual passei foram duros, difíceis, pesados. Mas também proporcionaram oportunidades de reencontro com aqueles que, por motivos mil, se afastaram e escolheram caminhos muito diferentes do que o meu. Proporcionaram reencontros entre amigos, que, preocupados comigo, se falavam diariamente, depois de quase 15 anos de pouca convivência. Proporcionaram reencontros com amigos de infância.

A mágoa com aqueles que não corresponderam às minhas expectativas já foi muito grande, está diminuindo e espero que fique bem pequeninha. Mas não vou conseguir apagar.
Que as coisas boas que os momentos difíceis oferecem prevaleçam na minha memória.

Meu grande amigo tinha razão.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Descobrindo a magia das letras


Domingo de tarde, Laura pediu para pintar lá fora...
- Mamãe, olha o meu desenho!
Foi uma surpresa linda.
Totalmente espontânea. 
Ela está encantada com as letras - e nós, encantados com o encantamento dela. 

Laura tem 5 anos e na escola onde estuda, não será alfabetizada até os 7 anos. O interesse vem de dentro, e é emocionante ver como as letras são mágicas para ela.

- Que lindo seu desenho,
- Você gostou muito, mamãe?
- Sim, adorei!
- Adorou?
- Sim, muito mesmo.
- Quer tirar uma foto?
- Quero!
- Vamos mandar pra vovó?

E assim registramos mais um capítulo desse momento mágico que é a descoberta (espontânea) das letras.


domingo, 17 de maio de 2015

Convivendo com as limitações

Não posso fazer esforço físico.
Fácil falar.
Difícil conviver sendo mãe de 2.
Mas estou obedecendo.

Não posso dar banho na Nina (alguém já experimentou dar banho em bebê
SEM fazer esforço com o abdômen?), não posso usar o sling, não posso carregar a Nina no bebê conforto, não posso tirar ou colocar o carrinho no carro, não posso pegar a Nina do chão, não posso colocá-la no chão.

Posso amamentar, posso brincar com elas, posso sentar no chão (esse é super importante, mas só as mães entendem), posso dirigir, posso pegar a Nina no colo (de um lugar alto), posso ler para a Laura, posso buscar a Laura na escola, posso cantar (bem desafinada) para a Nina, posso preparar a comida da Laura.

Sei que preciso focar no "posso", mas não posso negar que o "não posso" está sendo pesado. Falta menos do que faltava para poder mais, mas ainda falta.

Estou obedecendo. Mas está sendo difícil.

Quem me conhece sabe o quanto prezo minha independência. E estas limitações me tiram grande parte dessa independência - literalmente, me limitam. Tento planejar tudo nos mínimos detalhes pensando em cada movimento para poder ter um pouco de liberdade. Liberdade de ir e vir. Com elas. E pedir ajuda.
Sem ajuda, não dá - mas com ajuda é possível.

Aprendendo a cada dia.


sexta-feira, 15 de maio de 2015

Amamentando no meio da tempestade

Semana passada escrevi um relato sobre a minha experiência de amamentação em meio a um turbilhão em que minha vida se transformou devido a um problema de saúde. Escrever o relato foi uma experiência interessante.
Tentei ser breve, objetiva, focar apenas na amamentação.
Ao mesmo tempo que foi interessante, foi doloroso reviver minha experiência - e difícil não me perder nas emoções.
O relato foi publicado no blog de duas queridas : Bianca Balassiano Najm e Ana Garbulho. Esta experiência me deu vontade de voltar a escrever.
E agora, publico aqui:


Sim, eu consegui!
No que seria uma consulta de rotina pós-parto (Nina tinha 36 dias), uma pedra apareceu no meu caminho – literalmente. Eu, que estava planejando experimentar as aulas de dança e yoga para mães e bebês depois dessa consulta, começaria uma rotina de torturantes exames que culminariam em uma cirurgia grande e invasiva. Nina acabara de completar um mês de vida.
O primeiro exame foi simples: uma ultrassonografia que detectou uma massa gigante no meu abdômen (não no útero, mais acima – por isso não detectada durante a gestação) e teria que continuar “investigando”, ou seja, passar por uma bateria de exames. Naquele momento, minha maior preocupação era continuar a amamentar minha pequena – a preocupação de todos ao redor (médicos, pai, mãe, marido...) era comigo e, para eles, isso (amamentar) não era prioridade. Mas para mim era – e muito. E começou uma guerra, literalmente, uma guerra, para não parar de amamentar a Nina no meio da montanha russa que minha vida virou.
Pra começar, as informações truncadas – para qualquer pergunta há sempre muitas respostas diferentes, muito diferentes. E quando você está absurdamente fragilizada, com medo, insegura, escolher “em quem acreditar e brigar com o resto do mundo” não é tarefa simples.
O próximo exame era uma ressonância – com contraste. Nas orientações do laboratório, de 24 a 48h sem amamentar. Assim. Mas como assim? O que significa DE 24 A 48 horas? 24 é muito diferente de 48 – e, além disso, eu não sabia ordenhar (tentei e não consegui com minha filha mais velha). A pressão era para marcar o exame com urgência, para o dia seguinte (uma sexta). Marquei pra segunda, ganhei 3 dias. Surtei. Chorei. Solucei. Desesperei-me. Sabia que este exame não seria o final e sim o início de uma jornada que não tinha ideia de como seria.
Precisava aprender a ordenhar – minha GO me deu o contato da Ana Garbulho, que em menos de uma hora, estava na minha casa (deixando a bebê dela com leite ordenhado em casa). Meu marido foi buscar uma bomba de tirar leite alugada, uma vizinha e mãe de um amigo da minha filha mais velha foi buscá-la na escola, deu jantar e banho. Agradeço por ter aprendido a ordenhar sem me machucar. Ordenhar manualmente, ordenhar com a máquina. Congelar, descongelar. Quanto de leite mama um bebê em livre demanda? Como fazer as porções? As duas horas que a Ana ficou aqui comigo foi essenciais na minha jornada. E meu foco passou a ser ordenhar. Ordenhar e ordenhar. O medo com os exames, com os procedimentos que estavam por vir, com o que eu tinha na barriga, com a possível cirurgia, com a dor, esse medo estava presente sim, mas em segundo plano. Para mim, a prioridade passou a ser manter a amamentação no meio do caos.
Três semanas se passaram entre a consulta e a cirurgia. Foram 24h (para a ressonância) + 48h (para a tomografia) + 4h (para a endoscopia) sem poder amamentar minha filha. Nesses dias (horas contadas) ela tomou o meu leite na mamadeira (as pessoas que gentilmente me ajudaram a ficar com a Nina durante os exames não conseguiram dar no copo ou na sondinha) e depois voltou pro peito. Ela ficou irritada no começo porque o leite, que antes jorrava, passou a vir mais lento, afinal, eu estava ordenhando e estava “abusando” da minha produção. O médico pediu para eu não tomar nenhum medicamento para aumentar o fluxo, pois não sabíamos a origem do tumor. Então o aumento de produção foi apenas “mecânico” e com água. Muita água. Houve, também, dias em que não pude ordenhar, por ter que viajar para uma consulta e ficar o dia todo fora, ou por ter que fazer jejum por muitas horas para exames.
Depois de todos os exames feitos e cirurgia marcada, ainda não tinha o diagnóstico fechado. Quanto tempo vou ficar internada? Vou ficar no CTI? Quando vou poder sentar? Que remédios vou ter que tomar? Vou poder pegar minha filha no colo? Como será o corte da cirurgia? Quando vou poder cuidar das minhas filhas? Para todas as minhas perguntas apenas uma resposta: depende. Depende do que vamos encontrar quando abrir. A previsão de internação era de 2 a 10 dias. Precisava ordenhar. Muito. Mas não sabia quanto. Dessa vez não tinha um objetivo claro.
Outro desafio: precisava transportar o leite ordenhado de SP para o Rio (moro em SP, mas toda a família está no Rio, daí operar no Rio, para poder ter o suporte). Precisava chegar sem descongelar. Não sabia quanto teria no dia. As companhias aéreas não sabiam se podia ou não transportar LM. Nosso plano (depois de muitas pesquisas e considerações): levar o LM em isopores pequenos com gelo seco na mão. Levei uma carta da pediatra justificando o leite e todos os meus exames comigo. Se não me deixassem passar, meu marido pegaria o leite e iria de carro até o Rio. Passamos. O leite chegou super congelado, eu tinha 49 porções. Ufa. Faltavam 4 dias para a cirurgia.
Fui para o hospital deixando 80 porções de leite no freezer. Deu para 10 dias. Fiquei internada duas semanas. Pensava que seria possível mandar leite para ela, mas não foi, por diversos motivos. Por conta da extensão da cirurgia, fiquei 2 dias com dieta zero (sem água), depois, podia comer 50ml a cada 4 horas (!), 100 ml a cada 4h, 100ml a cada 3h, depois liquido sem restrição de quantidade, depois pastoso, depois, enfim... difícil produzir leite e ordenhar sem comer, SEM BEBER, sem posição, com acessos, com dreno, com dor, com interrupções para exames, enfim, difícil ordenhar no hospital.
Nos dias de internação tive o suporte fundamental da amiga e consultora de amamentação Bianca Balassiano Najm. Além da linha direta com o clínico, para pensar em alternativas melhores para os medicamentos do pós-cirúrgico, ela foi ao hospital várias vezes, ordenhou (e hidratou meu seio no CTI ferido por mãos de enfermeiras sem prática de ordenha – eu “ensinei” a fazer – que manipulavam meu seio com luvas), foi um ombro mais do que amigo, me ajudou a manter a cabeça no lugar nos momentos de desespero. Foi fundamental.
Uma semana depois da cirurgia, tive uma febre alta de 40 graus – precisei entrar com um antibiótico que, segundo os médicos (não há consenso – mas não tinha mais forças para ler, pesquisar, argumentar, brigar) não era compatível com amamentação. Precisava esperar o resultado da cultura para saber qual antibiótico tomaria, por quanto tempo e se poderia ou não ter alta (venoso ou oral) e amamentar.
Enquanto isso, o leite em casa acabou, Nina precisou tomar fórmula. Chorei muito. Me senti derrotada. Mas continuei ordenhando – precisava tentar. Neste momento, bastante debilitada, ordenhava 2 vezes por dia. Ordenhava para não ter mastite. Ordenhava para não secar o leite. Pensei em desistir – mas já tinha ido longe demais. Continuei. Estava cansada – cansada de tudo. Será que meu esforço valeria a pena? Será que ela aceitaria o seio novamente? Cheguei a ter medo de ela não me reconhecer... Afinal, ela completou 2 meses quando eu estava no hospital e ficamos 2 semanas afastadas...
Decidi que manteria a ordenha 2 vezes por dia e quando pudesse me alimentar (e beber) normalmente novamente iria trabalhar para aumentar a produção de leite. Depois de ter alta ainda precisei ficar 9 dias sem dar o peito por causa do remédio. Aos poucos fui aumentando o número de ordenhas diárias até me aproximar das mamadas dela. Conversando com um pediatra amigo da família, decidi não usar nenhum medicamento para aumentar a produção logo de cara e ver como seria. Comprei sondinhas para translactação. Aprendi a observar sinais de desidratação. Preparei-me para o dia da retomada. Ao mesmo tempo em que acreditava na retomada, tinha medo.
Chegou o dia. Não esperei que chorasse de fome, apenas sentei com ela num cantinho confortável e ofereci o peito. Ela olhou, lambeu, brincou com a língua, e mamou, mamou forte de um lado só – e o outro lado vazou, molhou todo o vestido, como se quisesse me mostrar que era possível. Não usei as sondinhas, não preparei mais fórmula, não fervi mais mamadeira. Naquele dia ela fez muitos xixis e fez um cocô daqueles que vai até o pescoço. Ela não estava desidratada. Ela dormiu bem (acordou 2 vezes ao invés de uma). Eu consegui. Nós conseguimos.
Foram 22 dias sem oferecer o peito (10 com meu leite, 12 com leite artificial). 6 semanas de ordenha, primeiro para guardar, depois para desprezar o leite impróprio. 2 semanas sem ver minha filha. Ela voltou ao aleitamento exclusivo.

Voltamos para SP 6 semanas e meia depois de sair com o leite congelado. Dois dias depois, Nina teve uma consulta com a pediatra: ela engordou e cresceu conforme sua curva. Eu consegui. Nós conseguimos.